terça-feira, 28 de abril de 2020

Língua Portuguesa- Profª ZILDA


CRÔNICA: MENDIGO





Eu estava diante de uma banca de jornais na Avenida, quando a mão do mendigo se estendeu. Dei-lhe uma nota tão suja e tão amassada quanto ele. Guardou-a no bolso, agradeceu com um seco obrigado e começou a ler as manchetes dos vespertinos. Depois me disse:
        – Não acredito um pingo em jornalistas. São muito mentirosos. Mas tá certo: mentem para ganhar a vida. O importante é o homem ganhar a vida, o resto é besteira.
        Calou-se e continuou a ler as notícias eleitorais:
        – O Brasil ainda não teve um governo que prestasse. Nem rei, nem presidente. Tudo uma cambada só.
        Reconheceu algumas qualidades nessa ou naquela figura (aliás, com invulgar pertinência para um mendigo), mas isso, a seu ver, não queria dizer nada:
        – O problema é o fundo da coisa: o caso é que o homem não presta. Ora, se o homem não presta, todos os futuros presidentes serão ruínas. A natureza humana é que é de barro ordinário. Meu pai, por exemplo, foi um homem bastante bom. Mas não deu certo ser bom durante muito tempo: então ele virou ruim.
        Suspeitando de que eu não estivesse convencido da sua teoria, passou a demonstrar para mim que também ele era um sujeito ordinário como os outros:
        – O senhor não vê? Estou aqui pedindo esmola, quando poderia estar trabalhando. Eu não tenho defeito físico nenhum e até que não posso me queixar da saúde.
        Tirei do bolso uma nota de cinquenta e lhe ofereci pela sua franqueza.
        – Muito obrigado, moço, mas não vá pensar que eu vou tirar o senhor da minha teoria. Vai me desculpar, mas o senhor também no fundo é igualzinho aos outros. Aliás, quer saber de uma coisa? Houve um homem de fato bom. Chamava-se Jesus Cristo. Mas o senhor viu o que fizeram com ele?

                             Para gostar de ler. Vol. 2. São Paulo: Ática, 1978.


Entendendo a crônica:

01 – Sobre a crônica, assinale a afirmativa correta.
a) Intenciona levar o leitor a refletir sobre a relação homem e qualidade de vida.
b) Aborda um momento na vida do mendigo, leitor de jornais, que se posiciona frente às manchetes.
c) Contrasta características inerentes a presidentes com as inerentes a jornalistas.
d) A fala do mendigo, ao usar a si mesmo como exemplo de sujeito ruim, é um argumento incoerente.
e) O cronista, no final do texto, mantém a mesma percepção do mendigo tida no início.

02 – As frases “Não acredito um pingo em jornalistas.” E “São muito mentirosos.” Guardam implícita uma relação de sentido de causa/consequência. Reescrevendo-as em um único período e conservando esse sentido, ficaria:

a) Não acredito um pingo em jornalistas, embora sejam muito mentirosos.
b) Não acredito um pingo em jornalistas, por serem muito mentirosos.
c) Não acredito um pingo em jornalistas, apesar de serem muito mentirosos.
d) Não acredito um pingo em jornalistas, mas são muito mentirosos.
e) Não acredito um pingo em jornalistas, portanto são muito mentirosos.

03 – Assinale a alternativa que apresenta a mesma ideia contida no seguinte trecho: “Meu pai, por exemplo, foi um homem bastante bom. Mas não deu certo ser bom durante muito tempo: então ele virou ruim.”

a) “Não sou nada.
     Nunca serei nada.
     Não posso querer ser nada.”
b) “O homem, que, nesta terra miserável,
    Mora, entre feras, sente inevitável
    Necessidade de também ser fera.”
c) “Um galo sozinho não tece uma manhã;
    Ele precisará sempre de outros galos.”
d) “Como dois e dois são quatro
    Sei que a vida vale a pena
    Embora o pão seja caro
    E a liberdade pequena.”
e) “Amigos para sempre
   É o que nós iremos ser
   Na primavera
   E em qualquer das estações”





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